quinta-feira, 7 de junho de 2012

JUROS BAIXOS, UMA ILUSÃO

JUROS BAIXOS, UMA ILUSÃO


A queda nas taxas de crédito à pessoa física não significa que teremos mais dinheiro à disposição nem a preço mais baixo.

Ao contrário do que muita gente pensa, a recente queda nos juros não significa que teremos mais dinheiro à nossa disposição, provavelmente nem a preço mais baixo. As taxas foram reduzidas, mas ninguém garante que o crédito será concedido. Está nos jornais: a resposta mais frequente a quem foi em busca de refinanciamentos e contratação de novas dívidas foi negativa. Os bancos privados tiveram de baixar juros para preservar sua imagem diante do alarde da redução imposta pelo governo aos bancos públicos. Mas, com tanto bancos públicos quanto privados precisam lucrar na atividade de alugar dinheiro, endureceram os critérios para a aprovação, tornando mais difícil obter empréstimos. Nas operações de crédito, há lucro quando o cliente paga o compromisso assumido, ou então quando o banco cora um spread maior nos empréstimos, com alto risco de inadimplência.
       Os bons clientes bancários, habituados a formar poupança e a pagar suas dívidas pontualmente, sempre tiveram condições de financiamento melhores do eu a maioria da população. São clientes que não emprestam o nome para amigos e parentes contraírem dívidas, são zelosos com a pontualidade dos compromissos e evitam crédito conveniente e caro, como o cheque especial e o rotativo do cartão de crédito. Ao recusar produtos financeiros ruins, sinalizam aos bancos que não darão problemas ao assumir compromissos. Para o bom cliente, os juros reduzidos nada mudam sua vida financeira.

Para os bancos, as práticas de crédito devem mudar. Indicadores mostram que a inadimplência está em alta e, com ela, seria preciso adotar taxas de juros mais altas para manter viável a concessão de empréstimos. Na contramão desse raciocínio, a nova política de preços mais baixos no mercado de crédito nos induz a acreditar que, invés de expansão significativa de crédito, teremos uma posição mais defensiva dos bancos e, consequentemente, uma retração na oferta de crédito.
Para conseguir atender às expectativas de quem investe em suas ações, ou seja, para se manterem lucrativos, os bancos tenderão a encolher sua atividade. Como o consumidor não aprende a lidar com dinheiro por decreto, a instituições que adaptarem uma posição amis agressiva terão de administrar o aumento da inadimplência. Ou, seja, em breve, serão forçadas a corrigir suas taxas de juros para cima. Os novos juros baixos não passam por tanto de ilusão.

Gustavo Cerbasi – Escreve sobre finanças pessoais, investimentos e como chegar ao primeiro milhão. É consultor financeiro e autor do livro Casais Inteligentes Enriquecem Juntos.



Reportagem publicada na Revista Você S/A, edição 167; maio de 2012; página 73.

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